O corpo de Evandro Teixeira, um dos maiores fotojornalistas do Brasil, foi velado nesta terça-feira (5), em cerimônia aberta ao público, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. O fotógrafo, de 88 anos, morreu na segunda-feira em decorrência de falência múltipla de órgãos, após complicações de uma pneumonia. Ele estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea.
Evandro deixa a mulher, Marli, com quem foi casado por 60 anos, além de duas filhas e três netas. Após a cerimônia, seu corpo seria cremado e as cinzas, levadas para Canudos, na Bahia.
“Eu estava em uma cobertura, estava em um lugar, e eu ficava próximo dele, porque o Evandro era o tipo daquele fotógrafo que a fotografia vinha para ele. Como um bom jogador de bola, que a bola vem até o jogador”, contou Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do presidente Lula.
Nascido em 1935, em Irajuba, um pequeno povoado a 307 quilômetros de Salvador, na Bahia, Evandro Teixeira deixou sua cidade natal para capturar o Brasil através de suas lentes. Ainda jovem, ele fez um curso de fotografia a distância e, reconhecido pelo talento, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1957 onde passou a trabalhar no Diário da Noite.
Em suas imagens em preto e branco, Evandro registrou momentos icônicos da história brasileira, consolidando-se como um dos grandes nomes do fotojornalismo. Passou 47 anos no Jornal do Brasil, onde documentou episódios marcantes, como o golpe militar e a ocupação do Forte de Copacabana em 1º de abril de 1964. Para fazer o registro, ele se disfarçou de oficial, escondendo uma câmera ao lado de um amigo militar.
A foto tornou-se capa do Jornal do Brasil, destacando os militares em contraste com a chuva que caía.
A marcha de cem mil pessoas protestou contra as arbitrariedades do regime militar. Como resposta, Costa e Silva decretou, em dezembro de 1968, o Ato Institucional número 5 (AI 5), que suspendia garantias constitucionais e concedia enormes poderes ao governo federal.
Evandro transformou seu trabalho em uma forma de resistência, documentando para que os horrores da ditadura no Brasil não fossem esquecidos. Ele também registrou a histórica Passeata dos 100 Mil em 1968, na Cinelândia, no Centro do Rio, capturando cenas como a de um estudante caindo enquanto era perseguido por policiais. Em entrevista ao Estadão em 2014, refletiu sobre a cobertura desses momentos tensos: “É a própria sociedade que se manifesta de uma forma diferente. E, infelizmente, o ‘inimigo’ pode estar ao seu lado”.
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